Edital de processo seletivo para residentes do Hospital Sírio Libanês tem por critério para 55% das vagas, não o conhecimento, competência e experiência, mas a etnia e cor de pele.
Nos últimos anos, temos assistido a um movimento crescente de implementação de políticas afirmativas que reservam vagas em processos seletivos com base em critérios identitários, como etnia, cor de pele, gênero e outras características individuais. Embora a intenção declarada seja promover a inclusão e corrigir desigualdades históricas, é necessário refletir sobre os impactos reais dessa prática, especialmente em setores estratégicos para a sociedade — como a saúde.
Quando
falamos em residência médica, por exemplo, estamos tratando de um ambiente onde
conhecimento, experiência e competência técnica não são opcionais: são
requisitos indispensáveis. A medicina não admite improviso, pois cada decisão
impacta diretamente vidas humanas.
O que deve definir um processo seletivo?
Um processo seletivo justo é aquele que avalia a capacidade do candidato de desempenhar a função para a qual se candidata. As provas, entrevistas técnicas e análises de currículo são — ou deveriam ser — instrumentos neutros: eles não veem a cor da pele, não medem a origem social, não analisam a identidade de gênero. Eles medem preparo, dedicação e aptidão para a função.
Quando
características como etnia ou cor de pele passam a condicionar o acesso a uma
porcentagem relevante de vagas, mesmo que os requisitos técnicos ainda existam,
cria-se uma distorção: a régua de entrada deixa de ser exclusivamente a
competência e passa a incluir fatores externos, que não tornam ninguém mais ou
menos apto para exercer aquela profissão.
Os riscos dessa política
1.
Sacrifício do mérito individual – Ao reservar
vagas, corre-se o risco de preterir candidatos mais preparados simplesmente por
não pertencerem a determinado grupo.
2.
Estigmatização de beneficiados – Mesmo os
candidatos aprovados pelas cotas, que muitas vezes têm plena capacidade, passam
a carregar a pecha de que só entraram por causa de sua condição, e não por seu
esforço.
3.
Impacto na qualidade final do serviço – Em áreas
como a saúde, isso pode significar a entrada de profissionais que, embora
aprovados, não representem o nível técnico mais elevado disponível.
Diversidade é desejável — mas a que custo?
Promover
diversidade é um objetivo legítimo e até necessário em uma sociedade plural.
Contudo, isso não pode ser feito à custa do critério que sustenta a excelência:
o mérito. Diversidade verdadeira não se alcança manipulando a porta de entrada,
mas sim oferecendo condições iguais de preparação desde a base — educação de
qualidade, acesso a oportunidades, programas de incentivo que capacitem, e não
que dispensem a competência.
Conclusão
Reservar vagas com base em cor, etnia ou características individuais não melhora o desempenho de um profissional, nem garante que ele atenderá melhor seu paciente, cliente ou comunidade. Apenas cria uma barreira para quem não faz parte dos grupos escolhidos e fragiliza o próprio sentido de conquista daqueles que entram por esse caminho.
A verdadeira
inclusão não deve ser um atalho que ignora o mérito, mas sim uma ponte que
oferece a todos as mesmas ferramentas para alcançá-lo. Porque, no fim, a cor da
pele não cura, a identidade não opera, a origem social não salva vidas — mas
conhecimento, experiência e competência, sim.