Em um país marcado pela desigualdade histórica e por um Estado hipertrofiado, a linha entre a justiça social e o assistencialismo eleitoreiro é tênue. No Brasil, sob os governos do PT e, particularmente, nas gestões lideradas por Lula, políticas sociais como o Bolsa Família, o apoio à agricultura familiar e o controle de preços de alimentos são frequentemente apresentadas como demonstrações de compromisso com os mais pobres. Mas será mesmo esse o objetivo principal?
A realidade revela outra lógica: a estruturação de um sistema onde se “dá o peixe”, mas evita-se ao máximo ensinar a pescar e, mais grave ainda, impedir que o povo alcance por si mesmo as margens do rio.
Retirar o país do Mapa da Fome da FAO pode parecer, à primeira vista, um feito digno de reconhecimento internacional, e de fato, em termos técnicos, é. No entanto, quando essa saída se dá através de ações que não visam à emancipação, mas sim à perpetuação da dependência, estamos diante de um fenômeno que deve ser criticado: o uso da pobreza como ativo político.
A ênfase não está em criar condições duradouras para que o cidadão supere a vulnerabilidade, mas sim em mantê-lo preso a um ciclo de esmola institucionalizada, sempre com a marca do partido no peito da sacola.
Governos que atuam dessa forma não erradicam a pobreza, eles a administram politicamente. Cada benefício distribuído sem contrapartida real de autonomia vira um instrumento de fidelização. O discurso é claro: "comigo você come, com o outro você passa fome". Uma ameaça disfarçada de cuidado.
Não se trata de questionar a validade de políticas de combate à fome ou à miséria. Elas são necessárias e urgentes. O que está em xeque é a intenção e o formato dessas políticas: são meios para o povo se libertar ou para mantê-lo submisso?
A expansão de programas sociais sem metas claras de transição, sem integração com políticas de geração de emprego, educação de qualidade ou incentivo ao empreendedorismo, cria uma sociedade onde o Estado é pai, patrão e dono da dignidade alheia.
Ao invés de cidadãos, temos beneficiários. Ao invés de liberdade, dependência. Ao invés de progresso, manutenção da pobreza gerenciada, cuidadosamente dosada para gerar votos, mas nunca o suficiente para gerar libertação.
O assistencialismo que hoje domina o cenário político brasileiro não é um erro, é um projeto. Um projeto que transforma políticas sociais em moeda de troca eleitoral, a pobreza em capital político, e o povo em refém da propaganda de que “só um lado cuida dos pobres”.
Enquanto isso, o verdadeiro desenvolvimento, aquele que liberta, educa, dá poder e emancipa, fica em segundo plano. Porque um povo que sabe pescar, que caminha com as próprias pernas, não precisa de tutores, nem de salvadores da pátria.
E é
exatamente isso que certos governos temem.
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