sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Mérito, Competência e o Risco de Sacrificar a Excelência em Nome da Diversidade

Edital de processo seletivo para residentes do Hospital Sírio Libanês tem por critério para 55% das vagas, não o conhecimento, competência e experiência, mas a etnia e cor de pele.

Nos últimos anos, temos assistido a um movimento crescente de implementação de políticas afirmativas que reservam vagas em processos seletivos com base em critérios identitários, como etnia, cor de pele, gênero e outras características individuais. Embora a intenção declarada seja promover a inclusão e corrigir desigualdades históricas, é necessário refletir sobre os impactos reais dessa prática, especialmente em setores estratégicos para a sociedade — como a saúde.

Quando falamos em residência médica, por exemplo, estamos tratando de um ambiente onde conhecimento, experiência e competência técnica não são opcionais: são requisitos indispensáveis. A medicina não admite improviso, pois cada decisão impacta diretamente vidas humanas.

 

O que deve definir um processo seletivo?

Um processo seletivo justo é aquele que avalia a capacidade do candidato de desempenhar a função para a qual se candidata. As provas, entrevistas técnicas e análises de currículo são — ou deveriam ser — instrumentos neutros: eles não veem a cor da pele, não medem a origem social, não analisam a identidade de gênero. Eles medem preparo, dedicação e aptidão para a função.

Quando características como etnia ou cor de pele passam a condicionar o acesso a uma porcentagem relevante de vagas, mesmo que os requisitos técnicos ainda existam, cria-se uma distorção: a régua de entrada deixa de ser exclusivamente a competência e passa a incluir fatores externos, que não tornam ninguém mais ou menos apto para exercer aquela profissão.

 

Os riscos dessa política

1.       Sacrifício do mérito individual – Ao reservar vagas, corre-se o risco de preterir candidatos mais preparados simplesmente por não pertencerem a determinado grupo.

2.       Estigmatização de beneficiados – Mesmo os candidatos aprovados pelas cotas, que muitas vezes têm plena capacidade, passam a carregar a pecha de que só entraram por causa de sua condição, e não por seu esforço.

3.       Impacto na qualidade final do serviço – Em áreas como a saúde, isso pode significar a entrada de profissionais que, embora aprovados, não representem o nível técnico mais elevado disponível.

 

Diversidade é desejável — mas a que custo?

Promover diversidade é um objetivo legítimo e até necessário em uma sociedade plural. Contudo, isso não pode ser feito à custa do critério que sustenta a excelência: o mérito. Diversidade verdadeira não se alcança manipulando a porta de entrada, mas sim oferecendo condições iguais de preparação desde a base — educação de qualidade, acesso a oportunidades, programas de incentivo que capacitem, e não que dispensem a competência.

 

Conclusão

Reservar vagas com base em cor, etnia ou características individuais não melhora o desempenho de um profissional, nem garante que ele atenderá melhor seu paciente, cliente ou comunidade. Apenas cria uma barreira para quem não faz parte dos grupos escolhidos e fragiliza o próprio sentido de conquista daqueles que entram por esse caminho.

A verdadeira inclusão não deve ser um atalho que ignora o mérito, mas sim uma ponte que oferece a todos as mesmas ferramentas para alcançá-lo. Porque, no fim, a cor da pele não cura, a identidade não opera, a origem social não salva vidas — mas conhecimento, experiência e competência, sim.

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