A crítica à meritocracia não nasce de preocupações profundas com a desigualdades, mas sim do ressentimento. A demonização da conquista funciona como um consolo para quem não conseguiu chegar lá. O problema não está no mérito em si, mas na incapacidade de lidar com a própria insuficiência, sem desmerecer quem avançou.
O debate
sobre meritocracia tem sido alvo de polêmica, sobretudo quando filósofos e
intelectuais a criticam como geradora de arrogância e humilhação. O argumento
central desses críticos é que, ao premiar apenas os vencedores, a meritocracia
alimentaria a soberba e relegaria os perdedores a uma condição de fracasso
permanente. Mas essa leitura incorre em um erro conceitual grave: confunde o
mérito com vícios de caráter que nada têm a ver com ele.
O que é mérito?
O mérito é,
essencialmente, a conquista resultante do esforço, da dedicação e da superação
de obstáculos. Ele é neutro: não carrega em si nem virtudes nem vícios morais.
Um estudante que se dedica e conquista o primeiro lugar em um concurso, ou um
trabalhador que persevera até alcançar sucesso profissional, são exemplos de
mérito em ação. O mérito é, portanto, a evidência de um resultado alcançado por
meios legítimos.
Orgulho e arrogância: frutos do reconhecimento
Sentir
orgulho por uma conquista é natural e até necessário. O orgulho legítimo
motiva, inspira e serve como exemplo para os outros. Reconhecer e até destacar
as próprias vitórias — aquilo que na etimologia se liga a “arrogar” — pode soar
arrogante dependendo da forma, mas não deixa de ser uma afirmação do esforço
empreendido. Nesse nível, ainda estamos diante de uma consequência natural do
mérito.
Soberba: um vício de caráter
A soberba, por sua vez, é um desdobramento que não depende do mérito, mas da personalidade de quem o alcança. É quando o indivíduo transforma sua conquista em instrumento de desprezo, desdém ou superioridade absoluta sobre os outros. A soberba não nasce da vitória, mas da ausência de virtude no caráter. Uma pessoa pode ser vitoriosa e humilde, assim como outra pode ser fracassada e soberba. A diferença está no temperamento e na postura diante do mundo, não no mérito em si.
Quando se acusa a meritocracia de “produzir arrogância”, incorre-se em um equívoco. O mérito não gera arrogância; ele apenas revela quem já tinha em si traços de orgulho equilibrado ou de soberba desmedida. O problema não é a conquista, mas a forma como cada indivíduo lida com ela. Demonizar o mérito, nesse sentido, é uma saída fácil — muitas vezes usada por quem não alcançou o mesmo patamar e prefere diminuir os vencedores a lidar com a própria insuficiência
A meritocracia não deve ser confundida com soberba. O mérito é a justa recompensa pelo esforço e dedicação, e o orgulho legítimo é parte saudável dessa trajetória. O que realmente define se uma conquista será instrumento de inspiração ou de desprezo é o caráter de quem a alcança. Ao invés de relativizar ou desmerecer o mérito, é preciso resgatar a noção de que a vitória individual pode servir de exemplo coletivo — e que a verdadeira medida de grandeza não está apenas em conquistar, mas em permanecer virtuoso mesmo no topo.
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