Por que o dólar se mantém estável mesmo diante do agravamento fiscal, político e institucional no Brasil?
Nos últimos anos, o dólar teve um comportamento marcado por fortes oscilações. Em determinados momentos, superou os R$6,00 — impulsionado por crises políticas, insegurança fiscal e instabilidade internacional. Mais recentemente, tem se mantido em uma faixa aparentemente controlada, entre R$5,20 e R$5,50, dando a impressão de uma estabilização econômica. Mas essa aparente estabilidade cambial causa estranheza, considerando o agravamento da situação interna do país: aumento de impostos, êxodo de empresários, queda da confiança no governo, crescimento do risco fiscal e insegurança jurídica.
Essa faixa de oscilação do dólar não se justifica por fundamentos sólidos. O que sustenta esse “equilíbrio” cambial é, na verdade, um conjunto de fatores artificiais e perigosamente frágeis.
A valorização relativa do real hoje se sustenta sobre três bases principais:
- Taxa Selic elevada,
atraindo capital estrangeiro especulativo;
- Movimentos especulativos de curto prazo,
desconectados da economia real;
- Intervenções pontuais do governo, via compra de dólares pelo Banco Central, que funcionam como maquiagem cambial para conter uma valorização do real que incomoda politicamente e beneficia o discurso econômico.
Essas ações produzem uma sensação de controle, mas apenas retardam os ajustes necessários e mascaram a fragilidade estrutural da economia brasileira.
A Selic alta e a maquiagem cambial podem dar fôlego ao real no curto prazo, mas:
- Freiam o crescimento econômico;
- Prejudica a exportação.
- Encarece o crédito e desestimula o consumo;
- Desestimula a atividade produtiva;
- Aumentam o custo da dívida pública;
- Geram distorções no câmbio;
- Dependem de capital volátil que sai do país ao menor sinal de instabilidade.
A manutenção do dólar em patamares “comportados” não indica saúde econômica — mas sim um esforço artificial para evitar o colapso da percepção de estabilidade.
A ausência de previsibilidade nas decisões judiciais e políticas impede que investidores estrangeiros — e até os nacionais — se comprometam com o país a longo prazo.
A revisão constante de regras, a insegurança em contratos e o ativismo judicial transformam o Brasil em um território hostil ao investimento produtivo, ainda que momentaneamente interessante para quem só deseja especular.
A insegurança pública também compromete o ambiente de negócios. A presença de facções criminosas, o risco à integridade física e o alto custo logístico fazem com que empresas evitem ou abandonem regiões inteiras.
Isso não apenas repele investimentos, como contribui para o enfraquecimento social e econômico das cidades e estados afetados.
Nesse cenário de caos institucional, temos ainda uma estrutura trabalhista brasileira que ainda penaliza quem gera emprego formal. Mesmo após a reforma de 2017, os encargos elevados, a burocracia sufocante e o ativismo na Justiça do Trabalho tornam a contratação formal um risco permanente.
O
resultado é um país com baixa
produtividade, alta informalidade e desestímulo à geração de empregos reais.
O Brasil atrai o capital que especula, mas expulsa o que constrói.
Se a compra de dólares fosse feita como parte de uma estratégia maior, com fundamentos macroeconômicos bem resolvidos, ela seria apenas um ajuste tático natural e até benéfico, por exemplo:
Cenário positivo (hipotético):
- ·
Inflação sob controle;
- ·
Crescimento econômico consistente;
- ·
Estabilidade política e institucional;
- ·
Segurança jurídica para o investidor;
- ·
Regras claras e confiáveis no mercado de capitais e
trabalho;
- · Abertura comercial e integração internacional;
Nesse caso, a compra de dólares:
- ·
Seria apenas um ajuste fino para suavizar o câmbio;
- ·
Não afetaria a confiança dos investidores;
- ·
Não causaria fuga de capital;
- · E manteria a Selic dentro de um patamar saudável e realista.
Mas não é o caso atual do Brasil:
Hoje o país enfrenta um cenário desfavorável e frágil, com:
- ·
Crise institucional entre os poderes;
- ·
Insegurança jurídica (decisões imprevisíveis e
instáveis);
- ·
Crescente intervencionismo estatal;
- ·
Desincentivo ao investimento privado;
- ·
Carga tributária pesada e instável;
- ·
Déficit fiscal elevado;
- · E sinais de fuga de capital já perceptíveis.
Nesse contexto, a estratégia de manter Selic alta e controlar câmbio por meio de compra de dólares:
·
Não é sustentável, porque não há base sólida que
sustente a confiança externa;
· E funciona apenas como um adesivo sobre uma hemorragia econômica.
A atual estabilidade do câmbio é uma fotografia maquiada de uma economia fragilizada. Sustentar o real com juros altos, fluxos especulativos e intervenções pontuais é adiar o colapso — não evitá-lo.
Sem reformas profundas — fiscal, trabalhista, tributária, institucional e de segurança pública — o Brasil continuará girando em ciclos de euforia artificial e colapsos previsíveis.
O real não
é forte. Está amarrado. E isso tem prazo de validade.
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