Em agosto de 2025, o portal especializado DefesaNet trouxe a público uma reportagem exclusiva sobre a chamada Operação Imeri (https://www.defesanet.com.br/geopolitica/agenda-trump/exclusivo-operacao-imeri-o-resgate-clandestino-de-nicolas-maduro-pelo-brasil/), um suposto plano articulado entre Brasil e Venezuela para resgatar clandestinamente o presidente Nicolás Maduro em caso de iminente queda do regime chavista ou de captura por forças estrangeiras.
O relato,
não confirmado oficialmente por nenhuma instância governamental, reacendeu
debates sobre o papel do Brasil na segurança regional, os limites da
solidariedade política entre governos aliados e os riscos de confrontar
diretamente os interesses estratégicos dos Estados Unidos.
Contexto internacional
A Venezuela vive sob cerco internacional desde meados da década de 2010, quando seu governo foi acusado por Washington de patrocinar atividades de narcotráfico, corrupção e terrorismo. Em 2020, os EUA chegaram a oferecer US$ 15 milhões pela captura de Maduro; em 2025, esse valor teria aumentado para US$ 50 milhões, consolidando o status de “narcoterrorista” atribuído a ele pelo Departamento de Justiça norte-americano.
Paralelamente,
os Estados Unidos reforçaram sua presença militar no Caribe, posicionando
destróieres e aeronaves de patrulha em uma clara demonstração de pressão sobre
Caracas. Esse movimento intensificou as preocupações de aliados regionais de
Maduro, em especial o Brasil sob o governo Lula, que historicamente adota uma postura
de mediação diplomática e apoio indireto ao chavismo como forma de conter a
influência norte-americana na região.
Estrutura da Operação Imeri
Segundo a reportagem do DefesaNet, a Operação Imeri teria sido planejada em duas frentes:
- 1. Marítima
- · Uso do Porta-Helicópteros Atlântico, de fragatas da Classe Niterói e do navio-doca Bahia.
- · Missão oficial: “exercício de treinamento naval e dissuasão”.
- · Missão encoberta: garantir um corredor de evacuação seguro para Maduro e seus assessores em caso de emergência.
- 2. Aérea
- · Emprego de uma aeronave KC-390 Millennium da Força Aérea Brasileira.
- · Ação de forças especiais do Exército, Marinha e Aeronáutica.
- · Cobertura diplomática: “operação humanitária”.
- · Destino previsto: Boa Vista (RR) ou Manaus (AM), pontos estratégicos na Amazônia, próximos à fronteira com a Venezuela.
Resistências internas
O plano teria encontrado divisões dentro das próprias Forças Armadas brasileiras.
- · Marinha: setores da força naval se mostraram contrários a arriscar seus meios em uma operação de alto risco político e militar.
- · Exército e Aeronáutica: haveria maior disposição técnica, mas também cautela quanto à repercussão internacional.
A leitura
predominante entre oficiais críticos era de que o Brasil estaria assumindo um
risco desproporcional, expondo-se a possíveis sanções econômicas e retaliações
diplomáticas dos Estados Unidos, sem garantias de benefícios estratégicos
claros.
A lógica de Maduro
Do lado
venezuelano, o cerco norte-americano levou o governo a ativar defesas aéreas
russas, mobilizar milícias populares e reforçar a retórica anti-imperialista.
Para Maduro,
ter um “plano de fuga” articulado com o Brasil significaria manter um eixo de
sobrevivência política caso seu regime fosse militarmente inviabilizado.
Isso também
reforça a percepção de que Caracas enxerga Brasília como um porto seguro
diplomático, sobretudo em governos alinhados à esquerda.
Riscos geopolíticos para o Brasil
Se a Operação Imeri tivesse sido executada, o Brasil enfrentaria:
- · Conflito direto com os EUA, potência hegemônica no hemisfério ocidental.
- · Sanções econômicas e isolamento diplomático, em especial junto à OEA e à União Europeia.
- · Desgaste interno: críticas de setores militares, políticos e da sociedade civil que não aceitam transformar o país em “escudo” de Maduro.
Por outro lado, o Brasil buscaria reafirmar-se como ator central na América do Sul, capaz de proteger aliados e desafiar a lógica de intervenção externa.
Ceticismo e repercussão
Apesar da
riqueza de detalhes da reportagem, não há provas documentais ou confirmação
oficial da existência do plano.
Analistas apontam a possibilidade de que o relato seja parte de uma guerra informacional, seja para expor fragilidades do governo Lula, seja para criar instabilidade na relação entre Brasil e Estados Unidos.
Em redes sociais e fóruns, multiplicaram-se críticas qualificando a denúncia como fake news, enquanto apoiadores do chavismo a interpretaram como mais uma evidência do “papel solidário” do Brasil frente às ameaças externas.
Conclusão
A chamada Operação Imeri permanece em uma zona cinzenta entre fato e especulação. Sua simples divulgação, entretanto, expõe os dilemas da política externa brasileira:
- · até que ponto o país deve proteger aliados ideológicos em detrimento de sua relação com os EUA?
- · é legítimo arriscar comprometer sua posição internacional em nome da solidariedade regional?
- · e, finalmente, quais os custos estratégicos de se tornar garantidor da sobrevivência de Nicolás Maduro?
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