quinta-feira, 4 de setembro de 2025

O Paradoxo da Mídia Brasileira: Verbas Públicas como Colchão para Gigantes em Declínio

No coração da democracia brasileira, o jornalismo deveria ser o pilar da informação plural e acessível. No entanto, o que observamos é um cenário distorcido, onde gigantes midiáticos como o Grupo Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo mantêm estruturas milionárias e lucros exorbitantes, apesar de audiências em franco declínio. Em contrapartida, mídias alternativas — portais independentes, criadores de conteúdo no YouTube e redes sociais — conquistam audiências massivas com recursos precários, mas lutam para sobreviver financeiramente. Como empresário ou observador atento do mercado, é tentador questionar: onde está a lógica mercantil nesse paradoxo? A conclusão é clara: a resposta reside nas verbas públicas, que funcionam como um subsídio velado, trocado por alinhamentos políticos que sacrificam a credibilidade e a opinião pública em nome da perpetuação do poder oligárquico.

 

O Declínio da Audiência Tradicional: Números que Não Mentem

Em 2025, os dados são inequívocos: a mídia tradicional está perdendo terreno para o digital de forma acelerada. Relatórios internacionais, como o Digital News Report, indicam que o consumo de notícias no Brasil migrou drasticamente da TV aberta e impressos para plataformas online e criadores de conteúdo. A TV aberta, outrora rainha do entretenimento, viu sua fatia de audiência cair de 50% em 2022 para 37,1% em 2025, enquanto o digital subiu de 27,6% para 36,5%. Sites de notícias tradicionais e jornais impressos despencaram de 50% para apenas 10% na preferência dos brasileiros. Criadores de conteúdo e vídeos online já superaram a mídia tradicional na América Latina, incluindo o Brasil, com audiências que priorizam agilidade e proximidade, em detrimento da formalidade das redações consolidadas.

No caso do Grupo Globo, ícone da mídia brasileira, a audiência na TV aberta encolheu significativamente, com o share de mercado caindo para níveis históricos baixos, impulsionado pela migração para streaming e redes sociais. Apesar disso, o balanço financeiro da empresa revela um cenário oposto: em 2024, a Globo faturou R$ 16,4 bilhões em receitas, com lucro saltando 138% para R$ 2 bilhões. No primeiro trimestre de 2025, a receita líquida cresceu 13%, atingindo R$ 4,1 bilhões, graças a diversificações como assinaturas e aquisições. Como explicar esse vigor financeiro em meio ao encolhimento de público? A resposta não está no mercado livre, mas em fluxos de caixa que transcendem a lógica de audiência e ROI.

 

Verbas Públicas: O Subsídio que Perpetua o Oligopólio

Aqui entra o elefante na sala: as verbas publicitárias do governo federal. Em 2025, o governo Lula expandiu seus gastos com publicidade, com contratos que podem alcançar R$ 3,5 bilhões só em ministérios, bancos estatais e agências como a Secom. Dos R$ 966 milhões distribuídos em 2024, quase 80% foram concentrados em apenas cinco agências de propaganda, que, por sua vez, direcionam esses recursos para veículos tradicionais. A Rede Globo, sozinha, recebeu R$ 177,2 milhões da Secom entre 2023 e 2024 — mais do que em quatro anos do governo Bolsonaro. Projeções para 2025 indicam continuidade dessa tendência, com o Banco do Brasil alocando R$ 750 milhões e a Caixa R$ 500 milhões em publicidade, priorizando canais consolidados.

Essa concentração não é acidental. O Brasil é um dos países com maior oligopólio midiático do mundo, onde cinco famílias controlam cerca de 50% dos principais veículos de comunicação. Verbas públicas, que deveriam promover pluralidade, acabam reforçando esse monopólio, criando um "coronelismo eletrônico" onde concessões de TV e rádios são trocadas por coberturas favoráveis. Em minha visão, isso é uma troca explícita: apoio governamental em troca de narrativas que, mesmo contrárias à opinião pública, sustentam agendas políticas. Exemplos abundam, como o aumento de 60% nas verbas para a Globo sob Lula, coincidente com coberturas que evitam críticas excessivas ao Planalto. Mídias alternativas, por outro lado, recebem migalhas — menos de 1% do total —, o que as condena à precariedade apesar de audiências superiores, como as de influenciadores digitais que dominam o engajamento jovem.

Pense como um investidor racional: por que despejar bilhões em veículos com audiência em queda, ignorando alternativas com alcance massivo? Porque o sistema não é puramente mercantil. As verbas estatais atuam como colchão, permitindo que os grandes mantenham estruturas inchadas — redações caras, estúdios e burocracias — enquanto ignoram a migração do público para o digital. Isso distorce o mercado, desincentivando inovação e pluralidade, e perpetua uma mídia que, em vez de fiscalizar o poder, muitas vezes o endossa.


A Consequência para a Democracia: Uma Mídia Desalinhada da Sociedade

O impacto vai além dos números: uma mídia sustentada por verbas públicas tende a se alinhar ao status quo, sacrificando sua independência. Estudos recentes apontam para a rejeição crescente ao jornalismo tradicional no Brasil, com queda de 50% no acesso, em tempos de polarização e guerras informacionais. Enquanto isso, o rádio e a TV fechada ainda detêm alguma credibilidade (81% e 75%, respectivamente), mas o digital avança como fonte principal, com investimentos publicitários previstos para superarem a TV aberta em 2026.

Minha opinião é contundente: esse modelo é insustentável e antidemocrático. Ele cria "desertos de notícia" em regiões periféricas, onde mídias alternativas poderiam preencher lacunas, mas são sufocadas pela falta de recursos. Políticas públicas, como o PL da Pluralidade Midiática, são urgentes para redistribuir verbas e promover diversidade. Sem regulação, o Brasil continuará com uma mídia rica, mas pobre em representatividade, onde o lucro vem do Estado, não do público.

Em resumo, o paradoxo da mídia brasileira não é um mistério mercantil, mas um sintoma de captura política. É hora de romper esse ciclo: investir em alternativas independentes, regular a concentração e priorizar o interesse público sobre os interesses oligárquicos. Só assim o jornalismo brasileiro recuperará sua essência — informar, não subservir.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Drex: Inovação Financeira ou Ferramenta de Controle Estatal?

Em um mundo cada vez mais digitalizado, o Banco Central do Brasil (BCB) avança com o projeto Drex, a moeda digital de banco central (CBDC) que promete revolucionar o sistema financeiro nacional. Anunciado como uma extensão digital do Real, o Drex visa facilitar transações complexas, como compras de imóveis e veículos, com maior eficiência e inclusão. No entanto, à luz das atualizações recentes e do contexto político-jurídico brasileiro, surge uma preocupação inescapável: será o Drex o dinheiro do futuro ou uma armadilha para o controle estatal absoluto? Como alguém que valoriza a busca pela verdade, vejo nesse projeto não apenas oportunidades, mas riscos graves à privacidade e à liberdade individual, especialmente em um país marcado por instabilidade jurídica.

O Drex foi concebido para operar com tecnologias modernas, incluindo Distributed Ledger Technology (DLT), semelhante ao blockchain, prometendo segurança, privacidade e rastreabilidade. A ideia era democratizar o acesso à economia digital, integrando-se ao Pix e ao Open Finance para criar um ecossistema financeiro mais eficiente. Transações simultâneas de dinheiro e ativos, mediadas por contratos inteligentes, seriam o grande atrativo, reduzindo burocracia e custos.

Contudo, atualizações de agosto de 2025 revelam uma virada drástica: o BCB abandonou o blockchain devido a desafios de escalabilidade e privacidade, optando por uma arquitetura centralizada para acelerar o lançamento, agora previsto para 2026. Essa mudança transforma o Drex de uma plataforma potencialmente descentralizada em um sistema controlado exclusivamente pelo Estado, focado inicialmente na reconciliação de garantias para operações de crédito. O BCB relata dificuldades em implementar soluções de privacidade que mantenham a funcionalidade, como destacado no relatório da fase um em fevereiro de 2025. Embora o banco negue qualquer intenção de vigilância, afirmando que o Drex não substituirá o dinheiro físico nem monitorará a população, a centralização inerente levanta dúvidas sobre essas garantias.

Na minha opinião, essa pivotagem não é mero pragmatismo técnico; é um alerta vermelho. Tecnologias centralizadas facilitam o monitoramento total, e a história mostra que promessas de privacidade frequentemente evaporam quando o poder estatal entra em jogo.

O maior perigo do Drex reside na sua capacidade de ser expandido para fins de vigilância. Uma vez implantado, pretextos como o combate à lavagem de dinheiro ou evasão fiscal — argumentos "esdrúxulos" que soam irrefutáveis — podem justificar a extensão da rastreabilidade a todas as transações cotidianas. No Brasil, onde o COAF já obriga relatórios de atividades suspeitas, integrar o Drex ao Pix criaria um panóptico — sistema de vigilância e controle — financeiro, permitindo ao governo uma visão completa dos fluxos monetários. Exemplos globais, como o yuan digital chinês, ilustram como CBDCs centralizadas evoluem para ferramentas de controle social, monitorando cidadãos sob o manto da segurança econômica.

Aqui no Brasil, a instabilidade jurídica agrava esse risco. Decisões judiciais controversas e reinterpretações de leis, como vimos em casos recentes de regulação digital, mostram que regras podem ser dobradas para atender interesses estatais. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) oferece alguma salvaguarda, mas sua aplicação é inconsistente, dependendo de um Judiciário suscetível a pressões políticas. Em um cenário de crise econômica ou polarização, o Drex poderia ser usado para congelar contas ou limitar transações, justificadas como medidas "temporárias" contra crimes financeiros.

Quando o poder está na máquina estatal, a vigilância cidadã — por mais atenta que seja — tem limites práticos, especialmente em processos graduais de erosão de liberdades.

Ferramentas financeiras introduzidas com nobres intenções frequentemente se tornam instrumentos de controle. A internet, por exemplo, prometia liberdade de informação, mas evoluiu para vigilância em massa. O mesmo padrão se aplica ao Drex: o que começa como uma solução para eficiência pode terminar como um mecanismo de dominação estatal. Relatórios recentes confirmam que apenas quatro CBDCs foram lançadas globalmente até fevereiro de 2025, e o Drex, ao abandonar a descentralização, alinha-se mais aos modelos autoritários do que aos democráticos.

Minha opinião é clara: o Drex representa um risco desnecessário em um país como o Brasil. Para mitigar isso, precisamos de transparência absoluta — como a divulgação detalhada da nova arquitetura no relatório de outubro de 2025 — e pressão por alternativas descentralizadas, como o retorno ao blockchain em fases futuras. Manter o dinheiro físico e opções como criptomoedas é essencial para evitar dependência total de um sistema estatal. A sociedade civil deve se mobilizar, exigindo que o Congresso imponha limites legais ao uso de dados do Drex.

No fim das contas, o Drex não é apenas sobre dinheiro digital; é sobre confiança nas instituições. Em um contexto de instabilidade, trocar privacidade por conveniência pode custar caro. Vale refletir: você trocaria sua liberdade financeira por uma promessa de eficiência? O futuro do Brasil depende de respostas vigilantes a essa pergunta.

Legalidade, Moralidade e Direitos Humanos: O Dever de Recusa a Ordens Manifestamente Ilegais

 Introdução

O Estado Democrático de Direito, consolidado pela Constituição Federal de 1988, estabelece limites claros ao exercício do poder público. Esses limites não se restringem apenas à conformidade formal dos atos com a lei, mas também à observância de valores superiores, como a moralidade administrativa e o respeito aos direitos fundamentais. Nesse contexto, emerge uma questão crucial: até que ponto agentes públicos podem se refugiar na hierarquia para justificar o cumprimento de ordens que, embora revestidas de formalidade legal, são substancialmente ilegítimas?

A história demonstra que a defesa da "obediência cega" não resiste ao crivo jurídico e ético. Dos julgamentos de Nuremberg ao sistema interamericano de direitos humanos, consolidou-se o entendimento de que ordens manifestamente ilegais ou atentatórias à dignidade humana não devem ser cumpridas, sob pena de responsabilidade do executor.

 

1. Legalidade e moralidade no Direito Administrativo

A Constituição Federal, em seu artigo 37, estabelece que a Administração Pública deve obedecer não apenas ao princípio da legalidade, mas também aos princípios da moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência. A legalidade, portanto, não é isolada: um ato só será válido quando respeitar também valores éticos e a finalidade pública.

Isso significa que nem tudo o que é “legal” no sentido formal é legítimo. Um ato administrativo ou judicial pode ser produzido dentro dos trâmites processuais corretos, mas ainda assim ser nulo por falta de motivação, desvio de finalidade ou violação à moralidade administrativa.

 

2. O dever de obediência e seus limites

O regime jurídico dos servidores públicos reconhece a importância da hierarquia e da disciplina. A Lei nº 8.112/90, por exemplo, dispõe que o servidor deve cumprir ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais.

Essa ressalva é fundamental. A ordem administrativa ou judicial que carece de fundamento, que se apoia em manipulações ou distorções, ou que afronta direitos fundamentais, não deve ser obedecida. O cumprimento de tais ordens não exime o executor de responsabilidade: ao contrário, pode torná-lo coautor da ilegalidade.

 

3. O precedente de Nuremberg e sua projeção atual

Nos julgamentos de Nuremberg (1945-1946), oficiais nazistas alegaram que apenas cumpriam ordens superiores ao participarem de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Essa tese foi rechaçada: consolidou-se o Princípio IV de Nuremberg, segundo o qual a obediência a ordens não afasta a responsabilidade individual quando a escolha moral era possível.

Esse entendimento ecoa no direito internacional e inspira o dever contemporâneo de recusa a ordens arbitrárias. No Brasil, ele se reflete no dever constitucional de respeito à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF) e na exigência de motivação para todos os atos decisórios (art. 93, IX, CF).

 

4. Ordens ilegais, direitos fundamentais e direitos humanos

A evolução jurídica pós-Nuremberg ampliou o debate. Não se trata apenas de ordens relacionadas a crimes contra a humanidade, mas também daquelas que violam direitos humanos e fundamentais.

Exemplos:

·         Mandado de prisão sem tipificação legal do crime (violação do princípio da legalidade penal).

·         Busca e apreensão sem fundamentação fática (violação da inviolabilidade de domicílio).

·         Ordens de tortura ou maus-tratos (violação da dignidade da pessoa humana).

·         Determinações de repressão arbitrária a manifestações pacíficas (violação à liberdade de expressão e reunião).

Nesses casos, ainda que exista a “aparência de legalidade” – um documento assinado por autoridade competente –, a substância do ato é inconstitucional e ilegal, devendo ser recusado.

 

5. A responsabilidade do agente executor

O agente que cumpre ordens manifestamente ilegais ou atentatórias aos direitos humanos não pode se escudar na hierarquia. Ele responde civil, administrativa e penalmente pelo ato, conforme prevê o ordenamento jurídico brasileiro e os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Inclusive, a Corte Interamericana de Direitos Humanos já condenou o Estado brasileiro em casos de violações praticadas por agentes públicos que alegaram apenas estar cumprindo ordens. Isso reforça que a proteção da dignidade humana está acima da obediência cega.

 

Conclusão

A defesa de que “nem tudo que é legal é moral” assume, no Direito Administrativo e no Direito Constitucional, um caráter prático e vital: atos formalmente regulares, mas que afrontam a moralidade ou os direitos humanos, são inválidos e não podem ser obedecidos.

O precedente de Nuremberg permanece vivo: o cumprimento de ordens não absolve a responsabilidade individual diante de atos ilegais ou atentatórios à dignidade humana. No Brasil, o dever do servidor e do agente público é claro: obedecer ordens legais e legítimas, e recusar aquelas que violem a Constituição, a moralidade administrativa e os direitos humanos.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Tokenização de Ativos Simplificada: A "Versão Pix" que Pode Desburocratizar o Mercado Imobiliário Brasileiro

Em um país onde o Pix revolucionou os pagamentos cotidianos, processando bilhões de transações anualmente e promovendo inclusão financeira para mais de 160 milhões de usuários, surge a oportunidade de estender essa simplicidade a transações mais complexas, como a compra e venda de imóveis e bens móveis. Lançado em 2020 pelo Banco Central do Brasil (BC), o Pix se tornou sinônimo de eficiência, gratuidade para pessoas físicas e acessibilidade via apps bancários. Agora, com as recentes atualizações no projeto do Drex – a moeda digital central do BC, que em agosto de 2025 anunciou o adiamento de tecnologias como blockchain e tokenização plena para uma versão mais conservadora em 2026 – é hora de repensar como inovar sem complicações excessivas. Em vez de uma CBDC ambiciosa focada inicialmente em usos interbancários, por que não uma tokenização de ativos simplificada, integrada ao Pix, para resolver problemas reais do dia a dia? Essa "versão Pix" poderia transformar o mercado, reduzindo burocracia e custos desnecessários, e alinhar-se ao crescimento explosivo dos ativos tokenizados no Brasil, que já viu um aumento de 260% em RWAs (Real World Assets) apenas no primeiro semestre de 2025.

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A Linguagem como Disfarce: Entre Verdades Incômodas e Mentiras Sofisticadas

Na sociedade contemporânea, a linguagem deixou de ser apenas um instrumento de comunicação para se tornar um poderoso mecanismo de controle e manipulação. A distorção, a manipulação e o ajuste linguístico funcionam como técnicas — muitas vezes aplicadas até de forma inconsciente — que remodelam a realidade ou a substituem por narrativas moldadas segundo a visão de quem as propaga.

George Orwell já alertava, em 1984, para o papel da novilíngua: um idioma projetado para limitar o pensamento e comprimir a realidade em moldes preestabelecidos. George Lakoff, em sua teoria do framing, reforça essa ideia ao demonstrar como a linguagem ativa frames mentais que condicionam a interpretação do mundo. O perigo é que, nesse processo, narrativas corrompidas se espalham como um vírus memético — infiltrando-se no imaginário coletivo e moldando percepções de maneira quase invisível.

O que agrava esse quadro é o paradoxo social que se instala: exige-se falsa polidez para que verdades sejam aceitas, mesmo quando precisam ser ditas em termos duros ou agressivos. Enquanto isso, os maiores absurdos encontram acolhida quando embalados em linguagem sofisticada. A forma se sobrepõe ao conteúdo, criando um filtro invertido. Verdades cruas são rotuladas de “incivilizadas” ou “ofensivas” pela ausência de ornamentos retóricos; já mentiras requintadas ganham o prestígio de sabedoria profunda.

Esse fenômeno não é novo. Na Grécia Antiga, os sofistas já exploravam a eloquência como ferramenta para vender ilusões, confundindo o valor da retórica com o valor da verdade. Hoje, vemos reflexos desse mesmo jogo nos debates públicos: um político que denuncia a corrupção de forma incisiva corre o risco de ser cancelado pelo “tom agressivo”, enquanto outro, ao defender políticas lesivas com eufemismos técnicos é celebrado como sofisticado.

O resultado é corrosivo: o debate público se degrada, a substância cede lugar à performance e a busca pela verdade é substituída pelo culto ao estilo. O filósofo Marshall McLuhan já dizia que “o meio é a mensagem”; mas, neste contexto, o meio não apenas carrega a mensagem, ele a disfarça. O polido prevalece sobre o verdadeiro, e a gramática elevada serve como cortina para ocultar incoerências, mentiras e manipulações.

Se essa dinâmica não for questionada, arriscamo-nos a viver em uma cultura de superficialidade, onde não importa o que se diz, mas apenas como se diz. Uma sociedade assim não caminha para a maturidade democrática, mas para o espetáculo — um palco em que o verniz da linguagem importa mais que o conteúdo da realidade.

Haddad e a Economia da Incompetência


 

O Brasil hoje tem um ministro da Fazenda que não consegue responder uma pergunta simples com raciocínio lógico. É inconsistente e confuso em conceitos básicos, inventa causas inexistentes e cai em contradições primárias. Não é apenas um gestor ruim: é um ministro inapto, inseguro e intelectualmente frágil. Sua condução não inspira confiança muito menos seriedade. Improvisa desculpas e o país paga a conta da sua incompetência.

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Em julho, as estatais brasileiras acumularam um rombo de R$ 2 bilhões. Ao ser questionado sobre o motivo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reduziu o problema inteiro aos Correios. Sua resposta não foi apenas simplista: foi um retrato de despreparo, contradição e incapacidade de análise.

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O diálogo...

 

Jornalista: Ministro, eu queria te perguntar sobre as estatais, que registraram um déficit de R$ 2 bilhões agora em julho. Qual é a avaliação que o senhor faz? Por que as estatais estão dando tanto prejuízo depois de terem dado lucro em anos anteriores?

Taxad: Olha, nós temos basicamente um problema nos Correios hoje. Os Correios hoje inspiram cuidado...

Jornalista: Por quê?

Taxad: Porque houve a quebra do monopólio, e hoje o Correio está com um passivo de ter que entregar as cartas, para quem usa ainda o Correio, nas regiões mais remotas do país.

Se você mandar uma carta de São Paulo para o interior da Amazônia, o Correio vai lá e entrega pelo valor do selo, e aquilo ali não se paga, imagina, não tem como você pagar com o selo, mandar uma carta física para o interior de uma região longínqua do país. Então, o Correio tem um problema estrutural, que é o enorme subsídio daquilo que ficou para ele. Porque quem concorre com o Correio não tem nenhuma obrigação de entregar a carta, ele só faz pelo preço que compensa.

Então, olha a situação paradoxal que nós criamos. Quebrou-se o monopólio, o Correio ficou com uma obrigação, e ele não tem funding para custear o subsídio.

Jornalista: Mas a mudança da lei nas estatais não está relacionada a isso, não?

Taxad: Não.

Enquanto todos os concorrentes do Correio vão pegando o filé mignon, a picanha, e vão deixando o Correio com o osso, para o qual ele não tem recurso para subsidiar. Então, esse é o problema que o Correio está enfrentando, que é um problema também estrutural, ele está tentando se reinventar, mas hoje a concorrência internacional, inclusive em relação aos Correios, é monstruosa. Com esses marketplaces, Mercado Livre, Amazon, todos eles.

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Numerando absurdos...


1. A fuga covarde da pergunta

A questão era clara: por que as estatais estão dando prejuízo depois de anos de lucro? Em vez de olhar para o conjunto, Haddad apontou apenas os Correios, como se o déficit de todas as estatais fosse culpa de uma única empresa. É o velho truque do bode expiatório: desviar o foco para não encarar a realidade.

 

2. O delírio do “monopólio quebrado”

Segundo o ministro, os Correios teriam problemas porque “perderam o monopólio”. Mentira. O monopólio legal de cartas e correspondências pessoais continua intacto. A concorrência privada sempre existiu no transporte de encomendas, inclusive nos tempos em que os Correios davam lucro.

A fala revela ignorância ou má-fé. De qualquer forma, demonstra incompetência.

 

3. Confusão grosseira sobre subsídio

Haddad chamou de “enorme subsídio” a obrigação legal dos Correios de entregar cartas em todo o território nacional. Isso não é subsídio: é dever da estatal.

Mais grave ainda: o ministro apresentou o “subsídio” como se fosse um passivo, algo negativo, quando na verdade, se existisse de fato, seria um ativo para investimentos.

Ou Haddad não entende o básico de economia, ou prefere distorcer a realidade para justificar o fracasso. Nos dois casos, é um atestado de incapacidade.

 

4. O verdadeiro problema que ele não enxerga

O buraco dos Correios vem de má gestão crônica, ineficiência logística, greves intermináveis e uso político da estatal como cabide de emprego. Nada disso foi mencionado. Haddad preferiu inventar desculpas.

Enquanto isso, empresas privadas como Amazon e Mercado Livre esmagam os Correios em eficiência. O ministro, em vez de reconhecer a falência do modelo estatal, se esconde atrás de falácias.

 

5. A contradição que denuncia o improviso

Na mesma fala, Haddad afirma que os Correios têm “um enorme subsídio” e, ao mesmo tempo, “não têm funding” para custear suas obrigações. Como pode existir um subsídio gigantesco e faltar fonte de custeio?

É uma contradição grotesca, que escancara a improvisação de quem fala sem dominar o assunto.

No fim, o Brasil não tem um ministro da Fazenda: tem um improvisador de desculpas que não sabe diferenciar causa de consequência. A economia do país está nas mãos de um amador.

Mérito, Orgulho e Soberba: a Confusão que Desvirtua a Meritocracia

A crítica à meritocracia não nasce de preocupações profundas com a desigualdades, mas sim do ressentimento. A demonização da conquista funciona como um consolo para quem não conseguiu chegar lá. O problema não está no mérito em si, mas na incapacidade de lidar com a própria insuficiência, sem desmerecer quem avançou.


O debate sobre meritocracia tem sido alvo de polêmica, sobretudo quando filósofos e intelectuais a criticam como geradora de arrogância e humilhação. O argumento central desses críticos é que, ao premiar apenas os vencedores, a meritocracia alimentaria a soberba e relegaria os perdedores a uma condição de fracasso permanente. Mas essa leitura incorre em um erro conceitual grave: confunde o mérito com vícios de caráter que nada têm a ver com ele.

 

O que é mérito?

O mérito é, essencialmente, a conquista resultante do esforço, da dedicação e da superação de obstáculos. Ele é neutro: não carrega em si nem virtudes nem vícios morais. Um estudante que se dedica e conquista o primeiro lugar em um concurso, ou um trabalhador que persevera até alcançar sucesso profissional, são exemplos de mérito em ação. O mérito é, portanto, a evidência de um resultado alcançado por meios legítimos.

 

Orgulho e arrogância: frutos do reconhecimento

Sentir orgulho por uma conquista é natural e até necessário. O orgulho legítimo motiva, inspira e serve como exemplo para os outros. Reconhecer e até destacar as próprias vitórias — aquilo que na etimologia se liga a “arrogar” — pode soar arrogante dependendo da forma, mas não deixa de ser uma afirmação do esforço empreendido. Nesse nível, ainda estamos diante de uma consequência natural do mérito.

 

Soberba: um vício de caráter

A soberba, por sua vez, é um desdobramento que não depende do mérito, mas da personalidade de quem o alcança. É quando o indivíduo transforma sua conquista em instrumento de desprezo, desdém ou superioridade absoluta sobre os outros. A soberba não nasce da vitória, mas da ausência de virtude no caráter. Uma pessoa pode ser vitoriosa e humilde, assim como outra pode ser fracassada e soberba. A diferença está no temperamento e na postura diante do mundo, não no mérito em si.

Quando se acusa a meritocracia de “produzir arrogância”, incorre-se em um equívoco. O mérito não gera arrogância; ele apenas revela quem já tinha em si traços de orgulho equilibrado ou de soberba desmedida. O problema não é a conquista, mas a forma como cada indivíduo lida com ela. Demonizar o mérito, nesse sentido, é uma saída fácil — muitas vezes usada por quem não alcançou o mesmo patamar e prefere diminuir os vencedores a lidar com a própria insuficiência

A meritocracia não deve ser confundida com soberba. O mérito é a justa recompensa pelo esforço e dedicação, e o orgulho legítimo é parte saudável dessa trajetória. O que realmente define se uma conquista será instrumento de inspiração ou de desprezo é o caráter de quem a alcança. Ao invés de relativizar ou desmerecer o mérito, é preciso resgatar a noção de que a vitória individual pode servir de exemplo coletivo — e que a verdadeira medida de grandeza não está apenas em conquistar, mas em permanecer virtuoso mesmo no topo.

O Paradoxo da Mídia Brasileira: Verbas Públicas como Colchão para Gigantes em Declínio

No coração da democracia brasileira, o jornalismo deveria ser o pilar da informação plural e acessível. No entanto, o que observamos é um ce...