A ilusão criada pelo capital estrangeiro
Nos últimos meses, muito se fala sobre a força do real e a atratividade do Brasil para o investidor internacional. O noticiário destaca a entrada de capital estrangeiro, a valorização da bolsa e até a queda do dólar frente à moeda brasileira. À primeira vista, pareceria que o Brasil finalmente estaria colhendo os frutos de uma economia sólida e de fundamentos confiáveis. Mas essa visão é, em grande parte, uma ilusão de ótica financeira.
O que realmente atrai o investidor estrangeiro não é a confiança em reformas estruturais. Não é um plano econômico de longo prazo. Nem mesmo um ambiente político estável. O que atrai o investidor internacional é um fator simples: a taxa de juros brasileira, a Selic, em patamar elevado.
Enquanto os Estados Unidos reduzem os rendimentos de seus títulos e a Europa mantém juros baixos, o Brasil segue oferecendo prêmios muito acima da média mundial. Em outras palavras, o estrangeiro enxerga aqui uma chance de ganhar dinheiro rápido, com baixo esforço, apenas estacionando recursos em títulos públicos e aproveitando o diferencial de juros.
A narrativa de que o Brasil é um “mercado emergente promissor” se apoia no movimento artificial do câmbio e da bolsa. Quando entram dólares, o real se valoriza, os títulos públicos se tornam ainda mais atrativos e parte desses recursos transborda para a bolsa.
Mas essa dinâmica não traduz a realidade do país.
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A política continua instável e polarizada.
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O crescimento econômico é baixo e irregular.
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O ambiente regulatório muda ao sabor de disputas
de poder.
· A dívida pública segue alta e crescente.
Tudo isso mostra que o capital estrangeiro não está aqui porque acredita no futuro do Brasil. Está aqui porque o Brasil paga mais, ponto final.
Esse tipo de entrada de capital não é investimento produtivo. Não gera empregos de qualidade, não amplia a capacidade industrial, não melhora a infraestrutura. É dinheiro especulativo, que pode sair na mesma velocidade em que entrou. Basta o Federal Reserve (Fed) elevar juros novamente ou surgir uma crise política doméstica mais aguda para esse fluxo se inverter.
Quando isso acontece, o real se desvaloriza, a inflação pressiona e o Brasil se vê, mais uma vez, exposto à fragilidade de depender de capitais de curto prazo.
Portanto, associar a atual valorização do real ou a alta da bolsa a uma suposta “ascensão brasileira” é ignorar a essência da questão. O Brasil não é hoje um emergente que inspira confiança por seus fundamentos. É, na prática, um país em crise estrutural, com um alívio momentâneo proporcionado pela Selic alta e pela busca internacional por retornos fáceis.
Enquanto não houver reformas sérias, responsabilidade fiscal e estabilidade política duradoura, o Brasil continuará sendo visto pelo investidor global como um atalho para ganhos rápidos, e não como uma oportunidade de longo prazo.
O
rótulo de “emergente promissor” que se tenta colar no Brasil nada mais é do que
uma miragem criada pela força temporária dos fluxos financeiros. A realidade
político-econômica segue mostrando um país em crise, cuja atratividade vem não
da confiança, mas do custo do dinheiro.
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