sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Flávio Dino e o Escândalo dos Respiradores Fantasmas do Consórcio Nordeste

A pandemia de Covid-19 revelou não apenas fragilidades no sistema de saúde, mas também abriu espaço para um dos maiores escândalos de corrupção dos últimos anos: a compra de respiradores fantasmas pelo Consórcio Nordeste. No centro das denúncias está o governo do Maranhão, então comandado por Flávio Dino (PSB), hoje ministro do Supremo Tribunal Federal.


O Consórcio Nordeste e a compra bilionária

Criado em 2019 para unir forças administrativas entre os nove estados da região, o Consórcio Nordeste ficou responsável por centralizar a compra de equipamentos hospitalares durante a pandemia. Em 2020, anunciou a aquisição de 300 respiradores ao custo de R$ 48 milhões.

A nota de empenho assinada por Carlos Gabas, ex-ministro e secretário-executivo do consórcio, registrava que os equipamentos já haviam sido entregues em “perfeitas condições”. Contudo, nenhum respirador foi recebido.


O papel de Flávio Dino

O Maranhão, sob o comando de Dino, destinou R$ 4,9 milhões para a compra de 30 aparelhos que jamais chegaram ao estado.

  • O então secretário de Saúde, Carlos Lula, ex-advogado eleitoral de Dino, foi o responsável direto pelas transferências.
  • Investigações apontam que o governo maranhense pagou até R$ 200 mil por unidade, quando o preço médio nacional era de R$ 87 mil.
  • Relatórios de auditoria indicaram superfaturamento e recomendaram Tomada de Contas Especial no TCE-MA.

Apesar das evidências, o processo ficou emperrado após tentativas da própria Secretaria de Saúde de afastar a auditora responsável e impor sigilo sobre o caso.


As empresas e a fraude

O dinheiro foi parar em empresas sem experiência no setor:

  • Hempcare: com apenas dois funcionários, recebeu R$ 48,7 milhões.
  • Biogeoenergy: do empresário Paulo de Tarso, recebeu R$ 24 milhões para produzir respiradores em uma fábrica inexistente em Araraquara (SP).

Paulo de Tarso, atualmente em processo de delação premiada, admitiu ter recebido propina.


A blindagem institucional

Outro ponto polêmico foi a atuação do Ministério Público do Maranhão, que arquivou representações apresentadas por deputados estaduais da oposição. O procurador-geral Eduardo Nicolau seguiu parecer do promotor Danilo José de Castro Ferreira, alegando ausência de crime ou improbidade administrativa.

Essa blindagem contribuiu para a paralisia das apurações, apesar de recomendações da CGU e de auditores do TCE-MA.


O legado do escândalo

O caso dos respiradores fantasmas ainda tramita em instâncias como o STJ e na Polícia Federal, que já realizou operações como a Cianose, cumprindo mandados de busca e apreensão em diversos estados. No entanto, nenhum centavo dos R$ 4,9 milhões pagos pelo Maranhão foi devolvido.

Enquanto Flávio Dino segue carreira política e judicial, permanecem sem respostas as perguntas centrais:

  • Quem autorizou o pagamento antecipado sem garantias?
  • Por que o governo maranhense resistiu a dar transparência às operações?
  • Quem se beneficiou dos milhões desviados em plena crise sanitária?

Flávio Dino e a Farsa da “Reputação Ilibada” no STF

A chegada de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal é o retrato mais claro da falência do critério constitucional de “reputação ilibada”. O dispositivo, que deveria proteger a mais alta Corte do país de ser transformada em balcão de negócios políticos, virou apenas uma formalidade protocolar.

Se comparado a “reputação ilibada”, atender a critérios mínimos formais de idade, currículo e aprovação do Senado deveria ser pura semântica para quem ocupará uma cadeira vitalícia no tribunal responsável por julgar presidentes, ministros, senadores e até interferir diretamente no destino do país. A pergunta é simples: um nome envolvido em controvérsias éticas, citado em delações e com histórico de alinhamento político descarado, representa de fato “reputação ilibada”?

E o pior. O Senado, que deveria ser o guardião desse filtro moral, age como mera extensão do Planalto. A sabatina, que deveria ser um crivo rigoroso, virou teatro: longas falas, perguntas ensaiadas e uma aprovação já combinada nos bastidores. Não há avaliação séria de caráter, não há escrutínio ético — há apenas a ratificação de um acordo político. Mas, uma pergunta que nunca foi feita: o que torna um grupo de políticos aptos a sabatinar tecnicamente um candidato a ocupar um cargo na mais alta Corte do país?

Em países como os EUA, um indicado ao equivalente da Suprema Corte é submetido a uma devassa pública em sua vida profissional e pessoal. Em nações europeias, conselhos mistos garantem que o processo não se resuma a barganhas políticas. Já aqui no Brasil, basta a canetada de um presidente e a complacência cúmplice de senadores (incompetentes) para colocar alguém no cargo mais poderoso da Justiça.

Enquanto isso, a população é obrigada a assistir ao espetáculo farsesco em que se confirma para o STF alguém cuja independência, capacidade e conduta é, no mínimo, questionável.


Conclusão

O escândalo dos respiradores do Consórcio Nordeste escancara como a pressa e a falta de fiscalização abriram espaço para um esquema de corrupção bilionário. Flávio Dino, à frente do governo do Maranhão, não apenas autorizou o repasse de recursos como também viu sua gestão ser acusada de omitir informações, tentar impor sigilo e proteger aliados envolvidos.

O caso permanece como uma ferida aberta na memória da pandemia e um desafio à impunidade de governantes que, em vez de priorizar vidas, permitiram que interesses políticos e financeiros se sobrepusessem à emergência nacional.

 


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