A crise da educação contemporânea não pode ser entendida apenas como um fracasso pedagógico ou administrativo. Dois autores – o francês Pascal Bernardin e o norte-americano John Taylor Gatto – demonstram, cada um à sua maneira, que essa crise é fruto de um projeto consciente de transformação social, no qual a escola deixa de ser instrumento de transmissão de conhecimento e torna-se aparelho de controle psicológico e cultural.
Bernardin, em Maquiavel Pedagogo, revela a estratégia global de engenharia pedagógica conduzida por organismos internacionais e fundamentada em conceitos gramscistas de hegemonia cultural. Já Gatto, em Emburrecimento Programado, mostra como essa lógica se concretizou no sistema escolar norte-americano, produzindo gerações de jovens intelectualmente empobrecidos e socialmente conformados.
Em Maquiavel Pedagogo, Bernardin descreve como reformas educacionais foram concebidas não para elevar o nível intelectual dos estudantes, mas para moldar valores, atitudes e comportamentos. Técnicas de psicologia social – como conformismo de grupo, dissonância cognitiva e dinâmicas de persuasão – são aplicadas sob a roupagem de inovação pedagógica.
Segundo o autor, organismos como UNESCO e OCDE orientam currículos que enfraquecem o papel da família, dissolvem tradições e criam um ethos compatível com uma “nova ordem mundial”. Trata-se de uma infiltração gramscista: em vez da revolução abrupta marxista, aposta-se na lenta conquista de mentalidades, especialmente pela escola e pela universidade.
Ex-professor premiado e crítico feroz da escola pública dos EUA, Gatto demonstra em Emburrecimento Programado que o sistema educacional foi deliberadamente estruturado para produzir mediocridade e conformismo.
Entre suas observações:
·
Fragmentação do saber: disciplinas superficiais
impedem a construção de pensamento integrado.
·
Obediência à autoridade: horários rígidos,
testes padronizados e currículos inflexíveis formam indivíduos passivos.
· Dependência emocional e social: a escola ensina a buscar aprovação externa, não a autonomia intelectual.
O resultado, segundo Gatto, é uma população adaptada às exigências do mercado e da burocracia, mas incapaz de pensar criticamente – exatamente o que um projeto de controle social desejaria.
Ao cruzarmos os dois autores, fica claro que:
1.
Bernardin explica a estratégia; Gatto mostra os
resultados.
·
Bernardin revela como elites e organismos
globais redefiniram a função da escola.
· Gatto mostra como, na prática, essa redefinição produziu gerações “programadas” para obedecer.
2.
A pedagogia como arma de hegemonia cultural.
·
Para Gramsci, a conquista da hegemonia passa
pelo controle da cultura e da educação.
·
Bernardin mostra a engenharia pedagógica como
aplicação dessa teoria.
· Gatto prova empiricamente que a escola moderna realmente opera como um aparelho ideológico.
3.
Da infiltração à ruptura.
·
A escola gramscista forma mentes moldadas, que
já não resistem ao discurso revolucionário.
· O “emburrecimento programado” garante a passividade, preparando terreno para fases mais agressivas de dominação política.
A leitura cruzada de Bernardin e Gatto desmonta a narrativa de que a falência educacional é mero acaso. Pelo contrário, revela que:
·
O empobrecimento intelectual é instrumental, não
acidental.
·
A escola se converteu em ferramenta de conformismo
social, e não de emancipação.
· A hegemonia cultural, uma vez estabelecida, neutraliza resistências e abre espaço para mudanças políticas radicais.
Maquiavel Pedagogo e Emburrecimento Programado compõem, juntos, um diagnóstico robusto: a crise educacional é o sintoma visível de um projeto de engenharia social global. Bernardin desvenda os mecanismos ideológicos e psicológicos, enquanto Gatto evidencia os efeitos práticos e cotidianos dessa manipulação.
Ambos
convergem em uma denúncia: a escola moderna deixou de formar inteligências
livres e passou a moldar consciências dóceis e manipuláveis. Esse processo não
apenas ameaça a excelência acadêmica, mas redefine o próprio futuro da
civilização, transformando a educação de caminho para a liberdade em via de
servidão.
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