Em um mundo cada vez mais polarizado, as relações comerciais internacionais deixaram de ser exclusivamente uma questão de competitividade e passaram a refletir, também, os alinhamentos ideológicos dos governos. O Brasil, sob a gestão atual, parece trilhar esse caminho tortuoso, promovendo uma política comercial seletiva, enviesada e arriscada. Isso o coloca, cada vez mais, sob o radar de instrumentos como a Seção 301 da legislação americana, uma poderosa ferramenta de defesa dos interesses econômicos dos Estados Unidos contra práticas consideradas injustas, discriminatórias ou desleais por parte de seus parceiros comerciais.
A Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 permite que o governo dos EUA investigue e imponha sanções contra países que distorcem a concorrência, violam a propriedade intelectual, impõem barreiras desiguais ou deixam de oferecer tratamento equitativo às empresas americanas. Historicamente usada com cautela, ela ganhou novo protagonismo nos últimos anos, sobretudo durante a guerra comercial com a China. E agora, pelo comportamento recente da política externa brasileira, não seria impensável que o país voltasse a figurar como alvo de atenção do USTR (Representante de Comércio dos EUA).
E engana-se
quem pensa que a Seção 301 se resume à elevação de tarifas. Seu potencial
destrutivo vai muito além, e seus efeitos podem atingir diversas camadas da
economia e da diplomacia brasileira:
·
Perda de credibilidade internacional: Ser
alvo da Seção 301 é ser rotulado como parceiro comercial desleal. Isso afeta a
confiança de investidores, reduz o fluxo de capital estrangeiro e compromete o
acesso a financiamentos internacionais.
·
Retaliações em cadeia: Uma ação americana
pode gerar um efeito dominó. Outros países podem seguir o exemplo,
ampliando o isolamento do Brasil no comércio global.
·
Fuga de empresas e realocação de cadeias
produtivas: Multinacionais com operações no Brasil, especialmente as com
sede nos EUA, podem reduzir investimentos, mudar centros de produção ou
redirecionar rotas logísticas para mercados mais estáveis e previsíveis.
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Impacto direto na economia real: Setores
exportadores sensíveis, como carne bovina, etanol, aço, celulose e máquinas,
podem sofrer prejuízos severos, com desemprego e perdas fiscais em cascata.
·
Fragilidade diplomática: O Brasil
enfraquece sua posição em organismos como a OMC, compromete negociações
bilaterais e atrasa sua eventual entrada em blocos econômicos estratégicos como
a OCDE.
· Mancha institucional: O mais grave talvez seja o dano à imagem do Estado brasileiro como um todo. Práticas comerciais motivadas por ideologia, e não por interesse nacional, deixam um legado de desconfiança que poderá perdurar mesmo após uma eventual mudança de governo.
O que está em jogo aqui não é apenas uma discrepância tarifária entre Brasil e Estados Unidos, onde produtos brasileiros entram no mercado americano com taxas mínimas, enquanto os produtos americanos enfrentam um ambiente hostil no Brasil. Trata-se de um desequilíbrio sistêmico alimentado por um viés ideológico, que premia países "amigos do governo" com benefícios comerciais (como China, Rússia e Venezuela), ao mesmo tempo em que impõe obstáculos a nações democráticas e economicamente estratégicas como os EUA.
Essa assimetria se manifesta de várias formas: desde tarifas elevadas a bens americanos, até exigências regulatórias seletivas, licenças dificultadas, subsídios internos que favorecem parceiros ideológicos e incentivos que distorcem o ambiente de concorrência. Trata-se de uma política externa orientada não pela lógica da reciprocidade e da eficiência, mas por afinidades ideológicas que não raro se chocam com os interesses nacionais de longo prazo.
Essa postura não apenas desrespeita os princípios básicos do comércio justo, como também compromete o acesso do Brasil a mercados cruciais, desestimula investimentos estrangeiros e fragiliza sua posição nas cadeias globais. Em vez de buscar acordos equilibrados com base na transparência, previsibilidade e cooperação técnica, o país se comporta como um jogador ideológico em um tabuleiro econômico, um erro que poderá ter consequências severas.
O uso da Seção 301, nesse cenário, não seria um ato isolado de proteção americana, mas uma resposta legítima a práticas que violam o espírito da boa-fé comercial. Seria, na prática, um recado claro: quem deseja vender ao mundo livre precisa agir com regras de mercado e não com filtros ideológicos.
O Brasil precisa decidir se quer ser um parceiro confiável no cenário internacional ou se continuará usando o comércio exterior como instrumento político. Porque a conta, como sempre, chega. E, neste caso, pode vir em forma de tarifas pesadas, desinvestimento, isolamento e perda irreversível de competitividade.
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