A recente ida do chanceler brasileiro a Nova York para participar de uma reunião da ONU sobre a situação palestina, em plena escalada de tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, escancara a inversão de prioridades do governo Lula e revela, mais uma vez, a face ideológica de sua política externa.
Com a economia brasileira ameaçada por sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos, o óbvio seria ver o Itamaraty mobilizado para abrir diálogo direto com Washington, buscando conter os danos e preservar interesses nacionais. Em vez disso, o governo prefere se projetar como porta-voz de uma causa distante e polêmica, numa postura que mais parece um aceno militante do que uma ação estratégica.
E aqui não se trata de defender ou atacar um lado específico no conflito do Oriente Médio. Trata-se de reconhecer que o chanceler brasileiro deveria, acima de tudo, representar os interesses imediatos do povo brasileiro. E, neste momento, esses interesses passam longe das fronteiras de Gaza e de Ramallah. O foco deveria estar em proteger o comércio exterior, garantir estabilidade cambial, atrair investimentos e evitar o encarecimento de produtos essenciais, todas áreas diretamente impactadas pelas medidas retaliatórias norte-americanas.
Esse tipo de diplomacia performática, onde o interesse nacional é preterido em nome de uma agenda ideológica, não fortalece a soberania brasileira, ao contrário: fragiliza-a. Enquanto o governo se ocupa em buscar protagonismo em conflitos geopolíticos de terceiros, os brasileiros assistem à alta do dólar, ao risco de perda de exportações e à erosão silenciosa da credibilidade internacional do país.
O Brasil precisa urgentemente resgatar o pragmatismo em sua política externa. Ser respeitado no cenário global não exige bravatas nem alinhamentos ideológicos, mas sim clareza de propósito e defesa intransigente dos próprios interesses. Enquanto isso não acontece, seguimos reféns de uma diplomacia que serve mais à narrativa de um partido do que às necessidades de uma nação.
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