No coração da democracia brasileira, o jornalismo deveria ser o pilar da informação plural e acessível. No entanto, o que observamos é um cenário distorcido, onde gigantes midiáticos como o Grupo Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo mantêm estruturas milionárias e lucros exorbitantes, apesar de audiências em franco declínio. Em contrapartida, mídias alternativas — portais independentes, criadores de conteúdo no YouTube e redes sociais — conquistam audiências massivas com recursos precários, mas lutam para sobreviver financeiramente. Como empresário ou observador atento do mercado, é tentador questionar: onde está a lógica mercantil nesse paradoxo? A conclusão é clara: a resposta reside nas verbas públicas, que funcionam como um subsídio velado, trocado por alinhamentos políticos que sacrificam a credibilidade e a opinião pública em nome da perpetuação do poder oligárquico.
O Declínio da Audiência Tradicional: Números que Não Mentem
Em 2025, os dados são inequívocos: a mídia tradicional está perdendo terreno para o digital de forma acelerada. Relatórios internacionais, como o Digital News Report, indicam que o consumo de notícias no Brasil migrou drasticamente da TV aberta e impressos para plataformas online e criadores de conteúdo. A TV aberta, outrora rainha do entretenimento, viu sua fatia de audiência cair de 50% em 2022 para 37,1% em 2025, enquanto o digital subiu de 27,6% para 36,5%. Sites de notícias tradicionais e jornais impressos despencaram de 50% para apenas 10% na preferência dos brasileiros. Criadores de conteúdo e vídeos online já superaram a mídia tradicional na América Latina, incluindo o Brasil, com audiências que priorizam agilidade e proximidade, em detrimento da formalidade das redações consolidadas.
No caso do
Grupo Globo, ícone da mídia brasileira, a audiência na TV aberta encolheu
significativamente, com o share de mercado caindo para níveis históricos
baixos, impulsionado pela migração para streaming e redes sociais. Apesar
disso, o balanço financeiro da empresa revela um cenário oposto: em 2024, a
Globo faturou R$ 16,4 bilhões em receitas, com lucro saltando 138% para R$ 2
bilhões. No primeiro trimestre de 2025, a receita líquida cresceu 13%,
atingindo R$ 4,1 bilhões, graças a diversificações como assinaturas e
aquisições. Como explicar esse vigor financeiro em meio ao encolhimento de
público? A resposta não está no mercado livre, mas em fluxos de caixa que
transcendem a lógica de audiência e ROI.
Verbas Públicas: O Subsídio que Perpetua o Oligopólio
Aqui entra o elefante na sala: as verbas publicitárias do governo federal. Em 2025, o governo Lula expandiu seus gastos com publicidade, com contratos que podem alcançar R$ 3,5 bilhões só em ministérios, bancos estatais e agências como a Secom. Dos R$ 966 milhões distribuídos em 2024, quase 80% foram concentrados em apenas cinco agências de propaganda, que, por sua vez, direcionam esses recursos para veículos tradicionais. A Rede Globo, sozinha, recebeu R$ 177,2 milhões da Secom entre 2023 e 2024 — mais do que em quatro anos do governo Bolsonaro. Projeções para 2025 indicam continuidade dessa tendência, com o Banco do Brasil alocando R$ 750 milhões e a Caixa R$ 500 milhões em publicidade, priorizando canais consolidados.
Essa concentração não é acidental. O Brasil é um dos países com maior oligopólio midiático do mundo, onde cinco famílias controlam cerca de 50% dos principais veículos de comunicação. Verbas públicas, que deveriam promover pluralidade, acabam reforçando esse monopólio, criando um "coronelismo eletrônico" onde concessões de TV e rádios são trocadas por coberturas favoráveis. Em minha visão, isso é uma troca explícita: apoio governamental em troca de narrativas que, mesmo contrárias à opinião pública, sustentam agendas políticas. Exemplos abundam, como o aumento de 60% nas verbas para a Globo sob Lula, coincidente com coberturas que evitam críticas excessivas ao Planalto. Mídias alternativas, por outro lado, recebem migalhas — menos de 1% do total —, o que as condena à precariedade apesar de audiências superiores, como as de influenciadores digitais que dominam o engajamento jovem.
Pense como um investidor racional: por que despejar bilhões em veículos com audiência em queda, ignorando alternativas com alcance massivo? Porque o sistema não é puramente mercantil. As verbas estatais atuam como colchão, permitindo que os grandes mantenham estruturas inchadas — redações caras, estúdios e burocracias — enquanto ignoram a migração do público para o digital. Isso distorce o mercado, desincentivando inovação e pluralidade, e perpetua uma mídia que, em vez de fiscalizar o poder, muitas vezes o endossa.
A Consequência para a Democracia: Uma Mídia Desalinhada da Sociedade
O impacto vai além dos números: uma mídia sustentada por verbas públicas tende a se alinhar ao status quo, sacrificando sua independência. Estudos recentes apontam para a rejeição crescente ao jornalismo tradicional no Brasil, com queda de 50% no acesso, em tempos de polarização e guerras informacionais. Enquanto isso, o rádio e a TV fechada ainda detêm alguma credibilidade (81% e 75%, respectivamente), mas o digital avança como fonte principal, com investimentos publicitários previstos para superarem a TV aberta em 2026.
Minha opinião é contundente: esse modelo é insustentável e antidemocrático. Ele cria "desertos de notícia" em regiões periféricas, onde mídias alternativas poderiam preencher lacunas, mas são sufocadas pela falta de recursos. Políticas públicas, como o PL da Pluralidade Midiática, são urgentes para redistribuir verbas e promover diversidade. Sem regulação, o Brasil continuará com uma mídia rica, mas pobre em representatividade, onde o lucro vem do Estado, não do público.
Em resumo, o paradoxo da mídia brasileira não é um mistério mercantil, mas um sintoma de captura política. É hora de romper esse ciclo: investir em alternativas independentes, regular a concentração e priorizar o interesse público sobre os interesses oligárquicos. Só assim o jornalismo brasileiro recuperará sua essência — informar, não subservir.
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